HARRY HAFT, O BOXEADOR JUDEU QUE SOBREVIVEU AOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO

Hertzko “Harry” Haft (1925-2007) foi um judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz (e outros) porque lutava boxe contra os próprios companheiros para entretenimento dos oficiais alemães. Vou resumir sua impactante história.

Em 1941, perto de completar 16 anos, Haft foi preso pelos soldados nazistas e levado ao primeiro dos campos de concentração onde viveria nos próximos anos.

Nos campos de concentração as lutas aconteciam todos os finais de semana e eram a diversão dos oficiais alemães. Os combates duravam até um dos lutadores não conseguir mais se levantar.

Conforme revelado na biografia escrita por seu filho, Haft participava de três ou quatro combates por domingo. Os derrotados nas lutas eram executados por fuzilamento ou na câmara de gás. Cerca de 76 homens teriam sido assassinados após perderem para ele.

Por sua extrema habilidade no boxe aliada ao desespero pela sobrevivência, os nazistas o chamavam de “A Fera Judia”.

Haft passou quase cinco anos em campos de concentração. No início de 1945, quando a guerra começou a se voltar contra os alemães, ele aproveitou uma chance para escapar: após matar um soldado nazista, vestiu seu uniforme e fugiu.

A guerra acabou e Haft continuou lutando. Ele mantinha uma sólida esperança de que ao se tornar famoso as notícias de seus feitos pudessem chegar à namorada de quem havia sido separado pela Gestapo, caso ainda estivesse viva.

Haft se inscreveu em um torneio de Boxe em Munique, e acabou sendo campeão na categoria dos pesos-pesados. Na época ele recebeu um prêmio como destaque da competição. O prêmio foi entregue pelo general americano Lucius Clay, o militar responsável pela ocupação da Alemanha.

Em 1948 mudou-se para os EUA e logo entrou no circuito profissional de boxe. A essa altura já chamado de “Harry”, enfrentou adversários lendários e venceu 13 de suas 21 lutas.

Mas sua carreira terminou após perder para o campeão dos pesos-pesados Rock Marciano, em 18 de julho de 1949, no Rhode Island Auditorium em Providence County. Mais tarde afirmaria que mafiosos entraram em seu vestiário pouco antes da luta e ameaçaram matá-lo se ele não perdesse.

Segundo o New York Times, após ser homenageado e incluído no Hall da Fama pelo Museu Nacional Esportivo Judaico em 2007, um jornalista perguntou se ele carregava algum arrependimento. Harry Haft respondeu: “Meus arrependimentos são as vidas que passaram por esses punhos”.

Caso você queira se aprofundar na história de Harry Haft, aqui vão algumas sugestões:

1. O livro “Harry Haft: Survivor of Auschwitz, Challenger of Rock Marciano”, escrito por seu filho Allan Scott Haft, editora Bertrand;

2. O filme “Survivor”/”A Luta de Uma Vida”, de 2021, dirigido por Barry Levinson, com Ben Foster no papel principal;

3. A HQ “O Boxeador”, de Reinhard Kleist, editora 8INVERSO.

Texto
Marcia Lomardo
@marcia.lomardo.artesmarciais
@marcia.lomardo